Sou a Cármen Borralho, tenho 48 anos e sou Enfermeira Especialista e Mestre em Enfermagem de Reabilitação, desde 2013. Sou apaixonada pela vida, pela família e pela profissão que escolhi. Ser mãe é a minha maior missão e ser enfermeira, o meu compromisso mais profundo com o outro “Eu” — cuidar, humanizar e promover a reabilitação com segurança, justiça e excelência. Iniciei a minha carreira em 2000 na Unidade de Cuidados Intensivos de Neurocirurgia do Hospital de Santo António dos Capuchos, e desde 2002 até 2019 integrei o Serviço de Cuidados Intensivos do Hospital de São Bernardo, em Setúbal. Em 2019, iniciei funções na Unidade de Cuidados na Comunidade Montijo Alcochete, o que me possibilitou alargar o cuidar fora da visão “hospitalocêntrica”. Durante a pandemia de COVID-19, em 2021, regressei ao mesmo serviço por sentido de dever e compromisso profissional, mantendo até hoje a minha ligação ao intensivismo.Este percurso permitiu-me desenvolver competências técnicas e humanas num contexto de elevada complexidade, onde a bioética — assente nos seus princípios — sempre orientou as minhas tomadas de decisões no cuidar. Pelo exposto se compreende que trabalhar no Serviço Nacional de Saúde tem sido, para mim, motivo de orgulho. Servir no SNS é garantir que o meu cuidar chega a todos, com equidade, humanidade, segurança e qualidade.
É neste espaço de compromisso e partilha que encontro o verdadeiro sentido da minha profissão: cuidar com ciência, ética e coração — porque acredito que o cuidar, quando é autêntico, transforma vidas. A minha experiência entre o contexto comunitário e hospitalar tem reforçado a minha prática ética, humanizada e centrada na pessoa, permitindo-me continuar a exercer a minha prática especializada com propósito, seriedade e dedicação a quem se dirigem os meus cuidados, onde a transladação do conhecimento e competências de um contexto para o outro, tem o objetivo major de elevar o cuidado para a excelência.
A intervenção precoce em contexto domiciliário aliada à intervenção educacional para a capacitação da pessoa em transição saúde/doença e cuidador, revela-se essencial para identificar situações de risco e prevenir complicações, contribuindo para reduzir as chamadas “portas giratórias” em cuidados de saúde diferenciados.
Tem sido um privilégio, ser Enfermeira Especialista em Enfermagem de Reabilitação (EEER) em contexto domiciliário e comunitário na Unidade de Cuidados na Comunidade Montijo / Alcochete, da ULSAR. Tenho o privilégio ímpar de entrar nas casas e nas vidas das pessoas, onde o domicílio é o espaço onde o cuidar se torna mais humano e próximo — aqui, partilham-se medos, conquistas e pequenos grandes progressos. É também entrar nas suas histórias e projetos de vida - partilho saberes e técnicas com base na mais recente evidência, mas também afetos e presença. Recebo, em troca, gestos cheios de valor: reconquistas funcionais, um olhar de confiança, um sorriso de envolvimento no ato de cuidar, um “obrigado” sentido, não só da pessoa cuidada, assim como do seu cuidador e da sua família.
Cada dia é uma oportunidade de ver renascer a autonomia, a esperança e a dignidade. Algumas das minhas áreas de atuação na minha práxis diária em contexto de reabilitação no domicilio, vê-se o cuidar na sua essência — a Reeducação Funcional Sensório Motora e Respiratória, a Reeducação Deglutitória, com recurso a bandas neuromusculares, o treino da deglutição, através de um produto de apoio – naquele caso, um copo recortado para o efeito, com o liquido espessado na viscosidade adaptada à condição da pessoa, e o momento simbólico do seu reflexo diante do espelho, reconhecendo o seu novo “eu”. Nesse reflexo perceciono o verdadeiro sentido da reabilitação: ajudar alguém a voltar a ver-se inteiro, capaz e digno.
Cuidar de alguém que tem alterações funcionais é, todos os dias, testemunhar a força do recomeço. Ser enfermeira de reabilitação é isso: estar ao lado de quem recomeça, acreditando sempre que, com cuidado, empatia e conhecimento, é possível reabilitar o corpo — e também o ser em todas as suas dimensões.
E é neste cuidar que partilho convosco, que encontro, todos os dias, a minha motivação e o meu propósito enquanto pessoa e EEER. Considero esta publicação uma mais-valia, não só em termos pessoais e profissionais, mas também e acima de tudo, é de todo o interesse dar a conhecer a influência dos cuidados de enfermagem de reabilitação prestados em contexto domiciliário na ULSAR, na recuperação da independência funcional da pessoa em transição saúde/doença.
Cármen Borralho, enfermeira na Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) Montijo/Alcochete
